Mas, para quem achou que as redes sociais são as grandes culpadas por gerar essa leva de pessoas egocêntricas, que tanto se expõem na internet, se enganou. Segundo a psicóloga especialista em redes sociais Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC/SP, os sites de relacionamento não mudaram o comportamento humano - apenas transformaram a maneira como as pessoas se expressam.
Se antigamente algumas pessoas tinham necessidade de fofocar no portão de casa ou de contar vantagens em eventos sociais, hoje elas têm uma ferramenta na mão que permite ver tudo de todos e compartilhar tudo com todos. "A qualidade da relação não muda. A rede social veio apenas para suprir a necessidade que as pessoas têm de se expressar e se relacionar em um mundo corrido", comenta Luciana.
Diferente do que se imagina, a psicóloga explica que, até hoje, a internet não gerou nenhuma mudança no ser humano, ela só é um facilitador. Portanto, até mesmo aquele colega tímido que quase nunca abria a boca nas rodas de bate-papo acaba postando mais coisas sobre si mesmo no Facebook, porque ele achou uma maneira mais fácil de se expressar. Isso quer dizer que a vontade de compartilhar momentos ou expor opiniões é inerente ao ser humano, mas se potencializa na internet por se tratar de um canal mais simples e, aparentemente, seguro.
De acordo com Luciana, existe uma linha da psicologia, desenvolvida por Carl Gustav Jung, que sugere existir uma espécie de "máscara social" em que as pessoas mostram apenas o lado da personalidade que lhe é solicitado naquele momento. Em uma reunião de trabalho, por exemplo, o indivíduo vai expor parte de suas opiniões, agindo conforme as tradições e convenções sociais. Já no mundo virtual, isso muda de figura, pois não há uma "máscara social" correta para aquela situação e ele acaba mostrando até seu lado mais reprimido. "Muitas vezes você nem tem consciência disso, mas tudo o que é publicado nas redes sociais transparece sua personalidade", diz. "Na internet nos sentimos seguros e protegidos e, portanto, não achamos que seremos tão julgados", completa.
Essa "falsa segurança" ocorre, segundo Luciana, porque existe um período de latência entre escrever e falar. Nas redes sociais existe mais tempo para se pensar no que será escrito, enquanto que na vida real as respostas devem ser imediatas. Com mais tempo para refletir, há mais segurança nas frases postadas e menos medo do julgamento alheio. Além disso, qualquer crítica pode ser facilmente ignorada ao desligar o computador, apagar uma mensagem ou bloquear uma pessoa.
No entanto, nem todos concordam inteiramente com essa teoria. A estudante de Relações Públicas Ayrin Vishnevsky, que está sempre conectada ao Facebook, acredita que mais do que segurança, os sites de relacionamento oferecem uma possibilidade única: compartilhar ideias e conteúdos com um número maior de pessoas. "Na vida real eu não tenho a chance de falar com todos os meus amigos o tempo todo. No Facebook eu tenho essa oportunidade e, por isso, acabo usando com bastante frequência", comenta. "Eu acredito que, para as pessoas mais tímidas, as redes sociais realmente parecem um ambiente mais seguro para se expressar, mas para pessoas mais extrovertidas na vida real, ela é apenas um canal com maior abrangência", conclui.
A psicóloga Luciana explica que existem comportamentos excessivos nas redes sociais que se caracterizam mais como carência do que egocentrismo. Muitas vezes o uso exagerado das redes sociais, especialmente para expressar detalhes íntimos demais ou para postar fotos constrangedoras, é categorizado como mau uso da internet e pode estar ligado ao vício.
Para Jonas Robeiro Alves, diretor de arte, os comportamentos na rede tendem a se amplificar. "As pessoas têm necessidade de serem ouvidas, mas a forma como essa necessidade vira algo recorrente, até parecendo um vício, depende de cada caso. Em alguns casos é carência, outros afirmação própria ou, simplesmente, é uma sensação de liberdade para se expressar", diz. "O problema do egocentrismo na rede é expor coisas do próprio cotidiano e não ideias ou informações relevantes à sociedade", conclui.
Sobre o vício, Luciana comenta que as pessoas que se prejudicam no trabalho ou nos estudos por causa das redes sociais podem ser consideradas viciadas. "Aquele que deixa de fazer coisas e estar entre amigos e família para permanecer conectado também tem maus hábitos na rede", afirma. No geral, as pessoas que sabem dosar a freqüência de acesso e fazem um bom uso das redes são seres humanos normais que estão apenas aproveitando esses recursos tecnológicos para se expressar. "O problema não é a ferramenta. É o uso que fazemos dela", conclui.
(Fonte - Olhar Digital)
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