segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"Para um artista pequeno a pirataria é o melhor negócio", dizem DJs em mesa redonda

Na última quinta-feira (9) o DJ Sany Pitbull, a MC Gi e Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê, trocaram algumas palavras em uma mesa redonda na Campus Party Brasil, que acontece até este domingo (12). Com o tema "Bonde do sample: a pirataria e a cultura do remix no funk carioca", os músicos revelaram que o comércio informal os beneficia - diretamente e indiretamente - muito mais do que as instituições legais e formais da indústria fonográfica.
MC Gi, DJ Sany Pitbull e Rodrigo Gorky falam sobre pirataria e mercado musical (Foto: Allan Melo/TechTudo) 
MC Gi, DJ Sany Pitbull e Rodrigo Gorky falam sobre pirataria e mercado musical (Foto: Allan Melo/TechTudo)
Ao falar sobre o assunto, Sany contou um caso em que encontrou uma música de sua autoria à venda no iTunes, mas que não lucra com as vendas. "Já entrei em contato com o iTunes. Entrei em contato com a gravadora que usei na época em que a lancei e eles disseram que não foram eles. Meu disco está sendo vendido no iTunes e eu não ganho nada com isso".
Já Giovanna Avino, mais conhecida como MC Gi, alerta para a extorção praticada no mercado e revela como artistas têm se virado no ramo. "Conheço MCs que vão na Globo e que são bem famosos que vendem seus CDs diretamente para os camelôs. Eles imprimem 100 mil CDs, o camelô vende, e eles ganham o dinheiro sem problemas. E não é só CD. DVD também. É uma forma de divulgação, e também não dá para dizer que isso é pirataria, já que o trabalho é dele mesmo".
Gi apoia o mercado informal de músicas, principalmente para os 'funqueiros', do qual reclama não ter entrada no mercado. "Ainda para dificultar não há espaço no mercado para divulgar o funk. As distribuidoras não dão espaço para isso". E Sany concorda: "Para um artista pequeno a pirataria é o melhor negócio. Nenhum artista de funk tem uma distribuidora para divulgar a música dele. A pirataria tem esse lado também. Ela acaba ajudando. Ela prejudica as multinacionais em questão de vendas, mas para artistas independentes, o custo é pequeno e a situação é benéfica para eles", declarou.
Quando perguntado sobre quando ele começou a atuar no mercado, Sany voltou às origens do baile funk. "O baile começou assim. As pessoas queriam levar as músicas para casa, e elas não tinham onde comprar CDs com funk. Não tínhamos internet, e ela não era a grande vitrine que é hoje", lembra. "Eu vendi muito CD no baile do Salgueiro. Vendia uma média de 500 CDs por R$5, com faixas de artistas que não tinham nome na época, como o Menor do Chapa e o Bonde do Vinho. Em pouco tempo eles ficaram famosos".
"Pirataria é a fonte de alimento para muita gente, inclusive músicos", defende DJ
"Para nós, do funk, os meninos que fazem funk hoje não tem noção nenhuma de direito autoral. É uma galera de 18 anos que tem um computador barato pago em 24x, onde ele baixa o programa e aprende a fazer um samba, um funk, na informalidade", declara Sany. "Só hoje eu recebi de manha 6 remixes do Vando", revela, no dia em que a morte do cantor foi anunciada. "A garotada tá rápida. Em 20 minutos uma música pode ficar pronta para tocar na noite".
Rodrigo Gorky, fundador do Bonde do Rolê, não se diz nenhum pouco ameaçado com a pirataria de suas músicas. "Eu uma vez vi um CD do Bonde do Rolê no camelô e achei o máximo. A pessoa que quer me ouvir não vai comprar o CD na loja. Foi ótimo, porque aquele comprador vai conhecer melhor o meu trabalho", declarou.
Para os músicos, Vinil não é salvação, mas um bom cartão de visitas
Os três músicos declararam que a volta do vinil têm movimentado um mercado de colecionadores e admiradores eu vale o investimento no mercado, mas também concordam que a ideia está longe de ser a salvação da industria.
"As gravadoras grandes vão afundar. O público que compra vinil não é o mesmo público de 10, 15 anos atrás. Hoje em dia existe um fetiche de se ter um vinil. As pessoas não compram mais discos porque 'gostam' do artista, ou porque querem valorizar o artista. Elas compram o vinil e baixam o MP3 - o vinil para ter, e o MP3 para ouvir", disse Gorky.
Mesa foi moderada pelo jornalista Rafael Rocha, fundador e Diretor de Criação da revista Noize (Foto: Allan Melo/TechTudo) 
Mesa foi moderada pelo jornalista Rafael Rocha, fundador e Diretor de Criação da revista Noize (Foto: Allan Melo/TechTudo)
"Eu acho legal o vinil pq trás de volta aquela coisa de ter uma coisa física. Eu lancei o vinil antes de lançar o CD, e fiquei muito mais alegre. Está voltando com força total, e é no vinil que os artistas estão vendo os grandes fãs. Ainda assim o vinil é um pouco caro.
Acho que a única forma de talvez o mercado de gravadoras não morrer é baixar o preço dos CDs", declarou Gi durante a discussão.
"Eu ainda hoje vou com uma mochila de 2kg de vinil para tocar. Mas eu sei que hoje em dia um muleque com dois pendrives faz a mesma coisa que eu. Não acredito mais na coisa de 'isso vai dar dinheiro'. O vinil é uma coisa mais pontual, para colocar na prateleira. Mas não acredito mais nesse modelo fisico", explicou Sany.
"Tem gente na indústria que tem noção do que tá rolando e já desistiu. Fabricam vinis para os colecionadores, e acham isso bacana. Ainda assim, sabem que isso não vai vender como uma Ivete da vida", disse Rodrigo Gorky.
ECAD não distribui arrecadação para os artistas
Durante a mesa redonda, um dos pontos questionados foi quanto a eficiência e a promessa de distribuição e proteção dos direitos autorais do ECAD, mas o discurso ganhou um tom mais negativo que o usual. "Nunca ganhei dinheiro do ECAD. Já vimos casos de chegar lá e descobrir que havia apenas 20 centavos para recolher. Mas a burocracia era tanta que não valia nem a pena resgatar. Eu outro caso vi um DJ reclamar que pagou R$500 para o ECAD ao tocar a minha música na casa de show, mas eu não ganhei nada com isso".
Mc Gi e Sany também veem problemas na atuação do ECAD. "Nunca recebi dinheiro do ECAD também. Se eles cobram um valor tão abusivo que toca a musica, eles deveriam repassar uma boa parte ao artista", declarou Gi. "Eu sampleio de mais. Quando vou fazer uma apresentação na televisão, tenho que fazer uma relação das músicas que vou tocar, e tenho autorização de alguns artistas para tocar a música deles. Mesmo assim o ECAD vai em cima de mim".
Para sobreviver no mercado fonográfico, os artistas já começaram a procurar outros meio. Sany Pitbull, por exemplo, tem diminuido sua presença nas pistas e intensificado seu trabalho na venda e licenciamento de músicas para filmes e comerciais, e diz que se fosse para não ganhar nada com a sua música, ele preferiria pirateá-la. "Poderia colocar minhas músicas de graça no Soundcloud".
Rodrigo Gorky também entra na onda. "Na verdade o maior dinheiro que a gente ganha com o Bonde do Rolê é no licenciamento de músicas para comerciais e para produtos lá de fora", revela.
(Fonte - TechTudo)

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